quinta-feira, 3 de novembro de 2011

e talvez tenha inventado apenas para me distrair nesses dias 
onde aparentemente nada acontece e tenha inventado quem  sabe em ti 
um brinquedo semelhante ao meu para que não passem tão desertas 
as manhãs e as tardes buscando motivos para os sustos e as insônias e 
as inúteis esperas ardentes e loucas invenções noturnas, e 
lentamente falas, e lentamente calo, e lentamente aceito, e lentamente 
quebro, e lentamente falho, e lentamente caio cada vez mais fundo e já 
não consigo voltar à tona porque a mão que me estendes  ao invés de 
me emergir me afunda mais e mais enquanto dizes e contas e repetes 
essas histórias longas, essas histórias tristes, essas histórias loucas 
como esta que acabaria aqui, agora, assim, se outra vez  não viesses e 
me cegasses e me afogasses nesse mar aberto que nós sabemos que 
não acaba nem assim nem agora nem aqui 
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(Caio
 Fernando Abreu. À Beira do Mar Aberto. In: Os Dragões Não Conhecem O 
Paraíso.)

Mas sei também que esse pensamento é idiota; as coisas acontecem do jeito que acontecem e estão certas assim. Não me arrependo de nada. Mas vezenquando passa pela cabeça um “ah, podia ter sido diferente…
 Caio Fernando Abreu.

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